terça-feira, 14 de maio de 2019

Almofala dos Tremembé


ALMOFALA DOS TREMEMBÉ



O TOPÔNIMO

Segundo os estudiosos da lexicografia, a palavra Almofala é portuguesa, de procedência árabe - Al mohala - que significa aldeola e lugar onde se mora durante algum tempo.

O dicionarista Aurélio Buarque igualmente dá à Almofala o significado de acampamento, arraial, etc.

LOCALIZAÇÂO

A histórica povoação de Almofala, que pertence à jurisdição do município de Itarema, do Estado do Ceará, está localizada à margem esquerda do rio Aracati-mirim, perto de sua foz e dois quilômetros distante do oceano. Dista 12 quilômetros da cidade de Itarema e 220 quilômetros de Fortaleza.

POVOADORES

Relativamente à procedência da gente que formou e veio povoando Almofala, afora os índios Tremembé, tem-se informação de que, entre os estrangeiros que, aí pela primeira metade do século XVIII, desembarcaram na costa acarauense e aqui fixaram residência, um bom número deles se instalou naquele famoso povoado e localidades adjacentes.

Francisco Ewerton afirma, com sua reconhecida autoridade no assunto, que entre as ribeiras do Aracati-mirim, a cuja margem ocidental está situada Almofala, e do Acaraú, em que demora essa cidade, se estabeleceram diversos colonos portugueses, mais ou menos no meado do século XVIII.

O advogado Gabriel José Arcanjo, radicado no Rio de Janeiro, filho de Almofala e estudioso de sua História, nos dá ciência de que "Almofala foi crescendo, habitada por colonos portugueses e espanhóis e por índios". E acrescenta: "Uma grande contribuição para o seu povoamento foi a criação do Porto dos Barcos, onde atracavam as embarcações que faziam o trânsito marítimo".



                                                             

A CAPELINHA DE 1702
Como é sabido, a escultura da Virgem Aparecida, Padroeira do Brasil, que em 1717 foi encontrada por três pescadores, nas águas do Rio Paraíba, em São Paulo, é feita de cerâmica, de cor castanho escuro, e mede 39 cm.                                                                                                                                                                  Pois bem, conta-se que uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, Padroeira de Almofala, também foi encontrada na praia, por índios daquela tribo, que estavam pescando, e que ficaram maravilhados. Um deles guardou a pequena escultura em sua oca, com cuidado e veneração.No dia seguinte, porem, a santinha havia desaparecido. E depois de um dia de buscas, foram encontrá-la, de pé, na areia de Almofala, a meio quilômetro do mar. Nunca se soube quem ali a pusera. Os índios viram na estranha ocorrência uma intervenção do Além; fizeram ali mesmo uma palhoça sobre a pequena imagem que passaram a venerar.

E quando o Pe. José Borges de Novais, auxiliado pelos mesmos indígenas, construiu, de taipa, a primeira capelinha, o fez no mesmo local onde a imagem fora achada, exatamente onde hoje se ergue o vetusto e pitoresco templo consagrado à Nossa Senhora da Conceição de Almofala, e tão frequentemente visitado por gente de perto e gente de longe
A tradicional igreja de Almofala, segundo "Cronologia Sobralense", começou a ser construída em 1702, ano em que o padre José Borges de Novais veio ao Ceará Grande, como primeiro missionário dos índios Tremembé. A capela foi construída em honra de Nossa Sra da Conceição, nascendo aí a povoação de Almofala e Missão do Aracati-mirim.

O operoso sacerdote prosseguiu em seu trabalho de evangelização, mas somente dez anos depois, a 19 de outubro de 1712, procedeu ele a bênção e a inauguração do humilde templo, o qual consoante assevera a tradição, era feita de taipa e coberta de palha, de coqueiro, provavelmente.

Pelo menos foi essa data - XIX-X-XII - que o saudoso sacerdote poeta acarauense, Padre Antônio Tomás, em 1892, viu uma inscrição gravada na pedra de uma das portadas internas, perfeitamente visível.

RECONSTRUÇÃO DA CAPELA

Presumivelmente, nove lustros mais tarde foi essa igrejinha reconstruída de alvenaria. Entretanto, parece que o arquiteto que a reedificando gravou na portada mencionada pelo Pe. Antônio Tomás, não a data do término dessa reconstrução, mas o dia inaugural da primitiva capelinha de taipa do Pe. Novais.

O Arguto e paciente historiador Antônio Bezerra, que ali esteve em 1884, assim se expressa sobre o formoso templo setentista: " No meio do espaço compreendido entre as duas ruas, do lado leste, fica a igrejinha, um mimo de arquitetura, que a Rainha de Portugal, D. Maria I, mandou edificar, para os Índios Tremembé. É diferente de todas que se encontram na Província, no gosto e na construção. Quem a visita não pode deixar de reconhecer em tudo o cunho das obras dos Jesuítas; sua perspectiva lembra os velhos templos de Portugal”.

O desembargador Álvaro de Alencar, renomado historiador cearense confirmando Antônio Bezerra, alude à Almofala e sua igreja da seguinte maneira:

“Ao lado fica a igrejinha, bela arquitetura que a Rainha D. Maria I, de Portugal, mandou edificar para os índios Tremembé. É diferente de todas as outras do Ceará”.

Todavia, não obstante essas afirmativas de que a linda capela de Nossa Sra. da Conceição de Almofala foi construída por determinação de D. Maria I, de Portugal, o Pe Antônio Tomás, autor de um substancioso e aprimorado estudo sobre aquela povoação e sua vetusta igrejinha, “inclina-se a aceitar a tradição legada por alguns velhos moradores do povoado, aos seus descendentes, de haver sido ela construída a expensas da irmandade de N. S. da Conceição, anteriormente ali ereta sob os auspícios dos padres que então dirigiram aquela missão”.
O poeta José Alcides Pinto corrobora:
“Mas se sabe contudo,
Que seu material
Veio da Bahia
Por via naval.
E que aqui chegando
Seguia depois

Para o lugar da obra em carros-de-bois”.

Consta que o forro da capela, bem como o piso da nave central eram de cedro, vindo igualmente da Bahia.entre esses matérias figuram as telhas de 80 cm de comprimento, que se quebraram quase todas, quando o teto desmoronou, e os tijolos que ainda lá estão, pesando 8 a 9 quilos cada um.

Tomando-se por base a informação dom saudoso historiador cearense, de que os matérias empregados na edificação da igrejinha, foram transportados nos barcos que aqui vinham carregados de carne-seca, a mesma deve ter sido levantada na segunda metade do séc XVII, porque as indústrias das charqueadas, no município de Acaraú, teve inicio em 1745, e durou exatamente meia centúria, uma vez que foi extinta quando veio a chamada seca-grande – 1790-1793 – talvez a mais terrível calamidade climatérica que atingiu o Ceará, em todos os tempos.

Aludida seca dizimou os rebanhos, destruiu a lavoura, matou muita gente de fome, abalou profundamente a economia cearense e acabou consequentemente, a indústria da carne-seca.
A DUNA INVASORA
Todavia, 1897, a leste da capela, uma duna de enormes proporções começou a ser desmontada, pelos ventos marinhos, arremessando, de mansinho, para as casa vizinhas, uma areia fina que penetrava incessantemente, pelo teto, pelas frinchas das portas, por toda parte.
Em principio do ano de 1898, quando Pe Antônio Tomás, então Vigário da Paróquia de Acaraú, foi visitar aquela igrejinha, como bimestralmente o fazia, o morro em referencia já tinha invadido algumas residências, e aproximava-se do templo.
O zeloso sacerdote apressou-se, então, em dar conhecimento do fato a Dom Joaquim José Vieira, então Bispo da Diocese do Ceará, adiantando que a integridade do prédio sagrado estava em sério perigo, e o problema se apresentava sem solução possível.
Na verdade, será sempre um ato de quase loucura o homem tentar impedir a ação da força cega dos elementos.
A CAPELA SOTERRADA
Efetivamente, a natureza prosseguiu em sua sinistra empreitada; aos açoites do alísio vigoroso, persistente, inexorável, aluviões de areia salina, dia e noite, iam caindo sobre a capela e sobre o povoado, com força de catástrofe, com aparato de fatalidade, lançando a tristeza, o assombro e o desalento sobre a comunidade indefesa.
E aquele pugilo de cristãos humildes e bons, acompanhou, desolado e compungido, a agonia de sua querida capela que, pouco a pouco, ia submergindo naquele oceano de areia tangida ao impulso implacável dos ventos marinhos. O povo estava realmente assombrado, porque aquilo era, de fato, uma calamidade abracadabrante, pavorosa e humanamente inevitável.
E dentro de pouco tempo, várias casas haviam sido soterradas; e da artística igrejinha restava de fora apenas “a cruz de ferro da torre sineira, como espetada no cocuruto da duna vencedora”, disse Gustavo Barroso. E como que pedindo aos céus a exumação de templo sagrado, dizemos nós.
O culto e exímio poeta acarauense Rodrigues de Andrade, que visitou Almofala naquela época, publicou no “Jornal do Ceará”, em 190, estes magníficos sonetos:

I
“Em frente a igreja de antiquado estilo,
Mas de elegante e sólida fachada,
Os casebres se alinham de um pugilo
De Tremembé e gente mestiçada
Esgalha em torno a víride ramada
Do cajueiral, farto e seguro asilo
Das aves quando a ventania irada
No coqueiral desfere alto sibilo.
Perto um regato murmuro colêa,
Longe um lençol de movediça areia
Que o mar sacode, caminhando vem.

Ali, na sombra da ramagem fresca,
Vive esta gente aos reditos da pesca,
Feliz no Samba e às areias do Torém”.
II

“Soluça o mar embravecido perto,
Jogando a areia que raivoso arranca
Do rio, o mar tão calmo outrora; certo
Algum pesar o coração lhe tranca.

E o vento insufla tanto a areia branca,
Que hoje esta praia é um inóspito deserto
Onde o viajante nem a sede estanca;
Agora tudo desse areial coberto.

Somente a aldeia, o coqueiral, a igreja,
(e há quem no fato algum milagre veja)
Pois tudo acaba, mas a igreja não;
Que a duna passa, o vento escava a ogiva
E a torre exsurge para os céus altiva,
Como estranho sinal de exclamação”.

A vida para aquela desventurada gente foi decorrendo, então, entre a angústia e a desesperança. O futuro se lhe apresentava escuro e funesto.

Mas, apesar daquela deplorável situação, ao que nos consta, nenhuma família dali se retirou definitivamente. Aqueles que fugiram “para longínquas paragens, a cata de novos abrigos”, vez por outra ali voltavam, trazidos pela saudade, para rever o querido local onde acontecera a mais estranha tragédia geológica de que há memória nos anais da terra brasileira.

O amor do povo almofalense ao seu torrão nativo foi mais forte do que a incerteza daquele aziago porvir.


                                                               O MILAGRE 45 ANOS DEPOIS

Entretanto em 1941, a duna começou a ser retirada do povoado e da vetusta capela, em rumo do Oeste.
Tão sorrateira e insistente como viera, a areia fina e salgada ia deixando a localidade onde permanecera por mais de quatro decênios, ao sopro constante das correntes eólicas.
Havia muita gente que rezava alto, chorando de alegria, ao ver a areia subir, em rodopios, tomando novos rumos, ao sabor do vento.
E, como por prodígio do céu, decorridos 45 anos, isto é, no ano da graça de 1943, o grande morro arenoso dali havia se mudado, impelido pelo mesmo vento que o trouxera, obedecendo a “ lei misteriosa e caprichosa que rege a marcha das areias no litoral cearense”.
A histórica igrejinha ali estava, firme e bela, porque sua sólida estrutura resistira admiravelmente á ação do tempo e ao peso da areia praieira que a sepultura durante nove lustros.
Apenas o que era de madeira se tinha estragado e o que era de ferro havia sido comido pela ferrugem. O velho sino de bronze, depois de quase meio século de silêncio forçado, voltou a fazer ouvir sua voz solene e grave, chamando os fiéis para as cerimônias do culto cristão. Ao mesmo tempo as casas que tinham sido soterradas começavam a ser restauradas.


  ALMOFALA NA POESIA        
Como é natural, diversos poetas têm escrito poemas sobre Almofala e sua lendária igrejinha. O inspirado bardo acarauense, Francisco José Ferreira Gomes, em seu apreciado livro "Menino da Barra", dedicou-lhe esta linda poesia: 

"Perdida nas areias brancas da praias do 
           Atlântico norte dorme Almofala dos Tremembé".                                   
"Dorme com seu Templo branco e barroco que 
as areias alvas da cor de suas paredes bisseculares 
                  sepultaram por quarenta e poucos anos".                                                   
"Dorme, Almofala dos Tremembé,
com a tua Padroeira vindas das terras do Reino
no ano de mil setecentos e doze".
"Dorme, Almofala dos Tremembé,
ponto inicial de civilização da Ribeira do meu Acaraú.”

Do professor poeta José Alcides Pinto, "ser fantástico e total que cura a nossa febre com as palavras sagradas do poema", são essas primorosas quadras: 

E para que o nativo tivesse pouso certo,
foi construída uma igreja no litoral deserto".
"Sobre a margem esquerda do Aracati-mirim
próximo ao mar que cerca e se acaba sem fim".
"Do rio tomou o nome qual foi plantado ao pé
essa missão reduto do índio Tremembé".
"Que logo se chamou povoação de Almofala
com o destino de ser lendária e legendária".
"A princípio a capela de palha era coberta
com esteios de barro e de taipa completa".
"Pouco tempo depois, segundo a tradição, 
foi levantada uma igreja muito acima do chão".
"Certamente o mais belo templo do Ceará
desde o século 18 outro assim não terá"

De outro docente-poeta, o professor José Silva Novo, são estes bonitos louvores rimados:

"Ó Almofala de meus ancestrais
Ermas, perdidas no areial das praias,
Como é solene o canto das sereias,
Como é gostoso o canto das jandaias"
"A tua igrejinha em pedra tosca
É uma relíquia tão bem encravada
Que as dunas caminhantes a cobriram,
Mas depois a deixaram aí chantada"
"Mas muito bem chantada a beira mar,
Olhando o mar azul esverdeado
       Com saudades dos tempos que se aforam. 
Com cheirinho cheiroso do passado". 



O MAR - A PRAIA - OS COQUEIROS         
     
Em, uivando e branindo, como feras na ânsia de sair da jaula pra a liberdade; outras vezes quase serenas rendilhadas de espuma luzidia, lembram sereias colossais, vestidas de maiôs de alvíssima cambraia, que vem se deitar na areia movediça daquela praia vasta, pitoresca e fascinante.
Aqui e acolá destaca-se no solo arenoso o alvacento perfil das dunas, de onde, aos constantes embates do vento que sopra do mar, se desprende uma areia fina que, em aluviões, sobe pelo espaço, e, geralmente, ruma para o ocidente, sem distanciar-se da orla marítima.
E um pouquinho além salienta-se a riqueza agrícola que produz aquele solo permeável e fecundo.
È a prodigiosa exuberância vegetal que se manifesta nas plantas frutíferas ali cultivadas por um povo de agricultores pacatos e amigos do trabalho; um povo que sabe fazer de sua profissão a verdadeira razão de ser de sua existência. E sabe tirar da terra o que a terra tema para dar.
Dominando os outros espécimes da flora agrícola, elevam-se dezenas de milhares de coqueiros, na pujança de seu caule perenemente erguido para o céu, com suas palmas viridentes sacudidas pelos alísios lembrando novos Briaréus, agitando no ar os braços cor de esmeralda.

"Coqueiros prestáveis,
Garçons gigantescos,
Com os ombros vergados de frutos,
Oferecendo refrescos",


Tal como disse o ilustrado sacerdote-poeta, Padre Osvaldo Chaves.

Os canaviais se ostentam pelos sítios, com seus pendões lourejantes, emprestando um novo colorido à paisagem e enriquecendo, ainda mais, aquelas paragens privilegiadas.

E, estendendo sobre o chão dadivoso um vasto tapete verde, feijoeiros, melancieiras, batateiras e outros, como que a completam a opulência e a beleza da lavoura naquela praia tão rica e tão encantadora.

Para o encanto maior daquelas bonitas paragens, revoadas de passarinhos enfeitam o ambiente, pousando nas árvores ou cruzando o espaço imensamente azul, numa festa de cores e gorjeios.


OS TREMEMBÉ
Extremando com os Anacés, para além do rio Mundaú, viviam os Tremembé, gentios que muito se distinguiram também por suas ações hostis aos brancos.
Povo nômade em perpetuo deslocamento, o território que senhoreavam ia até às margens do Parnaíba, segundo uns, ou até a foz do Iguaçu , segundo outros.
Em profundidade, suas terras, abrangendo a vasta ribeira do Acaraú, chegavam à Serra Grande.
Como variante desse topônimo, surgem as formas Teremembé, Taramembé, Tramaambé, etc.
Aldeados em fins do século XVII, pelos Jesuítas, perto de Camocim (Theberge) e nas praias Lençóis, Tutóia do Gentio,passaram, em 1702, para as margens do Aracati-mirim, no município de Acaraú. Foi, aí, seu primeiro missionário o Pe Borges de Novais, que, tendo iniciado os trabalhos apostólicos em 1702, faleceu a 2 de dezembro de 1721.
Como sucedera por toda a parte, e em igual circunstancia, os recém chegados não se adaptaram bem ao novo meio, fugindo uns para os Tabuleiros do Litoral e desertando outros para a vizinha Capitania do Maranhão.
Sobre índole turbulenta desses índios, que viviam de preferência à beira do mar, que era “a mais poderosa tribo do Ceará, que punha em perigo os próprios navios que ali passavam de Portugal para o Maranhão”, segundo o biologista acarauense, José Jarbas Studart Gurgel.

“Os Tremembé era hábeis nadadores; arremetiam a nado os tubarões, e com um pau agudo que lhes encaixavam na goela adentro, os traziam a terra e tiravam deles os dentes para flechas”.
Paulino Nogueira, historiador.

“Eram esse índios exímios pescadores marinhos e de robusta constituição, perlongando em toscas jangadas as praias, sem delas nunca se afastarem; e que eram realmente temíveis”.
Pompeu Sobrinho

“Valentes, corpulentos e temíveis, que não se deixavam domar facilmente”.

Raimundo Girão, escritor.
É certo também que esses bugres nutriam manifesta aversão aos luso-brasileiros.
Tanto isto é verdade, que o Forte de Nossa Senhora do Rosário, construído por Jerônimo de Albuquerque, em 1613, na enseada de Jericoacoara, para possibilitar ou facilitar a conquista do Maranhão, foi, mais de uma vez, atacado por esses gentios brigões.

E em denuncia formulada a El- Rei de Portugal, em carta datada de abril de 1663, Ruy Vaz de Siqueira informou que um barco português se dirigia a Camocim, para abastecer-se de água, e os Tremembé apoderaram-se dele e mataram toda a sua tripulação.

SUAS LIDERANÇAS

No presente ano de 2019, a comunidade indígena Tremembé se fortalece e se organiza com a participação ativa de algumas lideranças. As figuras maiores da Etnia Tremembé são o Cacique João Venâncio e o Pajé Luiz caboclo, que também carregam o titulo de Mestre da Cultura.   





SUAS ARMAS

Como armas os índios Tremembé empregavam a lança, o arco, a flecha, a clava e machados de pedra semilunares, de gume curvilíneo e base cônica, muito bem polidos e afiados. A confecção desses machados obedecia a um ritual realizado durante a lua crescente, pois acreditavam que combatendo com essas armas jamais seriam vencidos.  
“Os Tremembé tinham o hábito de, no primeiro dia do novilúnio, todos os meses, ficarem vigies a noite toda fazendo estes machados, não cessando enquanto não estivessem perfeitos. Alimentavam a superstição de que, levando tais machados à guerra, não seriam vencidos, antes arrebatariam aos inimigos a vitória. Enquanto faziam esses machados, as mulheres, moças e crianças ficavam de fora dos oiupoés, dançando e cantando sob a égide do crescente”.

Osvaldo de Oliveira Riedel

UNIÃO DOS ÍNDIOS

 

Referindo-se à união e à solidariedade dos indígenas dentro de suas tribos, assegura a escritora Lúcia Magalhães, que “nenhuma coisa própria tem que não seja comum, e o que tem há de partir com os outros, principalmente se são coisas de comer, das quais nenhuma guardam para o outro dia; nem cuida de entesourar riqueza”.
Igualmente, segundo reza a tradição oral, os Tremembé de Almofala, não obstante sua inclinação hereditária para a desordem e pra o motim, mantinham uma boa convivência no selo da maloca; reinava ali um autentico exemplo de unidade fraterna. Terra, taba ou outros bens quaisquer pertenciam a todos em comum.
“Esta idéia está clara e viva na alma do índio e ele compreende a propriedade comum como coisas inteiriça da qual porção alguma pode pertencer a um indivíduo só”.

Von Martius

Profundamente religiosos, os Tremembé ajudavam sempre, com manifesta boa vontade, nos preparativos da festa anual de Nossa Senhora da Conceição, Padroeira da Legendária capelinha.




                                                                                  ODE AOS TREMEMBÉ
“Os Tremembé, meus índios misteriosos.
Das plagas de Almofala orgulhosos,
Onde dançavam mágico o Torém.
Meus Tremembé da terra acarauense,
De vós se orgulha o povo cearense
Pois mais que vós pujança ninguém tem.”

“A igreja que deixastes está intacta
Naquela aldeiazinha tão pacata
Onde a saudade apenas ali medra...
As montanhas de areia a perseguiram,
Mas mesmo assim jamais a destruíram,
Pois a fizestes linda, tosca em pedra.”

“A herança cultural da vossa raça
Ainda hoje na Almofala traça
Vestígios do folclore verdadeiro,
E nós pesquisadores lá corremos
E sempre moradia por lá temos
Daquele povo bom e hospitaleiro.”
                                                                                        Silva Novo

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